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Texto Acadêmico (Escrita Criativa)

           Texto Acadêmico 

           O que Beyoncé quis nos dizer em relação à luta do povo negro nos Estados Unidos da América e como podemos usá-la em paralelo à mesma luta do povo negro no Brasil?
            No dia 6 de fevereiro de 2016, a cantora norte-americana lançou uma de suas canções mais aclamadas e também mais criticadas por conta do teor político em sua letra e também em seu videoclipe; Formation (Formação, em tradução livre) expressa a luta da comunidade negra nos Estados Unidos e faz grandes referências a fatos e eventos históricos como por exemplo, o ativismo de Martin Luther King e o surgimento de grupos extremistas como o Ku Klux Klan.
            Beyoncé nasceu em Houston, no Texas, seu pai é do Alabama e sua mãe de Louisiana, sul dos Estados Unidos que é uma das regiões que historicamente tem a maior parte da população negra, é o lugar onde existiu a maior porcentagem de escravidão, grande parte das políticas de segregação racial e não é coincidente que tenha sido o local usado como base para o resultado final no videoclipe e que o mesmo possua além das mensagens explícitas, algumas mensagens subliminares, como ela estar em cima de uma viatura na cidade inundada ou várias cenas de homens negros dançando, que ao início parecem destoadas, mas que sim, fazem bastante sentido quando encaixadas ao contexto e também a voz masculina ao fundo dizendo “What happened at the New Orleans? (O que aconteceu em Nova Orleans, em tradução livre)”.
           A artista claramente faz alusão à violência policial contra os negros, vide que todo o elenco do clipe são pessoas de pele escura, com exceção dos policiais, ela traz à tona a dificuldade que a população daquele local enfrentou depois que o Furacão Katrina atingiu a região em meados de 2005 mesmo já tendo sido extremamente desgastados pela agressividade das autoridades, e a voz masculina pertence a Messy Mya que foi um vlogger/youtuber gay assassinado a tiros em 2010 sob circunstâncias suspeitas. Messy criticava em seus vídeos a violência policial no local. Seus assassinos nunca foram encontrados.
            Ao inserir essa declaração nos exatos primeiros segundos da obra, Beyoncé deixa claro que pretende escancarar para o mundo o genocídio negro, pessoas que são mortas injustamente apenas por serem afrodescendentes, são confundidas com criminosos, pessoas que têm família, amigos, trabalho, mas que são ceifadas por um sistema opressor. O racismo em sua pior forma.
            Ter uma artista do porte da Beyoncé fazendo um álbum visual focado inteiramente nessa luta é de extrema importância para a representatividade, por esse e outros motivos vale a pena citar o livro “Mulheres, Raça e Classe” da grande autora Angela Davis, pois são duas obras que apesar de terem 35 anos de diferença, se encaixam instantaneamente pelo conteúdo.
            Angela Davis é uma filósofa, ativista, foi presa injustamente em 1970 e se candidatou a vice-presidência da república nos Estados Unidos em 1980. Vale ressaltar que durante uma apresentação de Formation no show de intervalo do Super Bowl, Beyoncé enalteceu os Panteras Negras, grupo esse que Davis foi participante ativa durante a década de 70 e que foi uma das causas de sua prisão.
            No livro, a autora trata da escravidão e os efeitos causados por esses nuances da opressão e de como as mulheres negras foram desumanizadas durante esse período e é notável como isso perdura até os dias de hoje. Ela expressa como naquele tempo os negros em geral e principalmente as mulheres eram utilizadas somente para servir e em contrapartida, em certo momento na letra de Formation, Beyoncé exalta a negritude e se orgulha de ter poder aquisitivo, hoje ela é a dona da casa grande, ela pode usar roupas caras, o que significa muito mais do que isso, é uma forma de encorajar as pessoas negras a exigirem seus direitos e serem tratadas com dignidade.
          Falando em racismo e dignidade, nos faz retornar em assunto mencionado um pouco antes que é a violência policial, discutido com menos veemência em 2016, ganhou ainda mais notoriedade em 2020 quando em plena pandemia do coronavírus, o jogador de futebol americano George Floyd foi brutalmente e covardemente assassinado por um policial branco, causando histeria, revoltas e manifestações em todo o globo terrestre.
            Traçando um paralelo dessa situação com a que vivemos atualmente no Brasil, nós também podemos citar casos de brutalidade policial. Não é novidade alguma que a polícia não é muito fã das periferias, e os prejudicados, em grande parte das vezes, são sempre os negros e pobres ou negros e pobres que lutam em favor da sua própria classe.
            Marielle Franco, João Pedro, Ágatha Félix, Jenifer Cilene, Cláudia Silva Ferreira, Kethellen de Oliveira, Kauã Rosário, Kauê Ribeiro, George Floyd, Breonna Taylor, Trayvon Martin... vidas negras extinguidas, porém histórias que nunca serão apagadas. Ambas Beyoncé e Angela Davis quiseram ressaltar em suas obras que grande parte da violência tem cor, mas a luta é maior e resiste ao tempo.

REFERÊNCIAS: DAVIS, Angela. Mulheres, Raça e Classe. Editora Boitempo, 2016.
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