Tendência do corte do cabelo feminino nos anos de 1920

             Ao realizar pesquisas para escolher a temática do texto, a questão do cabelo feminino no século XX chamou muito a atenção, sendo esse o tema escolhido: tendência do corte do cabelo feminino nos anos de 1920, com a reportagem de tendência “Cabellos Curtos” retirada de um manual de civilidade brasileiro da Revista São Paulo de 1924 (anexo 01). O que transporta a optar por este tema como tendência é o fato de que em relação às décadas passadas o corte de cabelo se radicalizou e, as justificativas dessa mudança possuiu todo um contexto histórico.

            Nas décadas passadas, as mulheres eram muito retraídas, não tinham liberdade e sem dúvidas, isso acarretava no seu visual. Sendo, então, os cabelos compridos e com penteados elaborados sempre com chapéus por cima; vestidos longos, decotes discretos, saias enormes e pouca maquiagem era o que caracterizava a mulher.
Mulheres antes dos anos 20

            A reportagem de tendência “Cabellos Curtos” da Revista São Paulo de 1924 evidencia que no século XX a figura feminina revolucionou com seus cortes de cabelos ousados. O século XX foi marcado pelo fim da Primeira Guerra Mundial que, consequentemente, trouxe prosperidade para a vida de todos e, principalmente, a mulher começava a ter mais liberdade. A moda, claro, acompanhou essa modernização da mulher e as mudanças de seus costumes – foi a primeira vez que as pernas femininas podiam ser vistas em público.

No texto “Tendências da moda e mundos globais” de Diana Crane e Maria Lucia Bueno (2011) as autoras discorrem como no passado o vocábulo “moda” era comumente utilizado para designar as mudanças que ocorriam nos estilos dos vestuários, contudo, no século XXI esta terminologia foi substituída pelo termo “tendência”, o que reflete diretamente na forma como os sistemas de moda funcionam. As autoras narram ainda que “as tendências de vestuário na forma de uma moda dominante eram criadas pelos estilistas” (p. 256, 2011), em meados do século XIX, os costureiros franceses criavam a cada estação novos estilos amplamente seguidos por todo o mundo ocidental e de vez em quando, ocorriam modificações abruptas de um estilo dominante para o outro, segundo as autoras. Deste modo, no início do século XX, com o aumento da auto-estima, as mulheres passaram a tesoura no cabelo e isso acarretou em um corte mais prático, adequando-se a rotina pois no ano de 1918, pela primeira vez, integraram-se no mercado de trabalho.
Mulheres nos anos 20

De acordo com o autor Guillaume Erner, no texto “Vida e morte das tendências”, a maior parte das inovações se baseia em motivos claros, fáceis de identificar, “não é difícil explicar como uma moda coincide com sua época. Os determinismos sociais de algumas tendências são óbvios” (p. 216, 2008). Com o aumento de autoafirmação do gênero feminino que finalmente acontecera, ocorreu um grande marco para as mulheres: Coco Chanel. Ela revolucionou essa época com seus cortes retos, os blazers (que toda mulher possui em seu guarda-roupas), cardigãs, colares de pérola e, principalmente, o corte de cabelo Chanel reproduzindo sua imagem – mulher de extrema independência, bem sucedida, com muito estilo e personalidade. Criando assim, novas mulheres: maquiagem forte, batons escuros e, o mais revolucionário, que são os cabelos curtos. Sendo assim, essas eram as tendências de beauté no século XX.

Através do manual de tendência “Cabellos Curtos” (anexo 01), nota-se que o ano de 1900 foi essencial para o desenvolvimento da liberdade de expressão da mulher, como exemplo, o corte de cabelo, que até então era simples e sem expressão e passou a ser ousado e moderno para época. Cada grupo de mulher tinha seu próprio penteado, as pintoras tinham um modelo, as esportistas outro, deixando seus cabelos à mostra e fora dos enormes chapéus usados até então. As mulheres não estavam mais se contentando com a imagem que passavam de frequentadoras de teatro e de jantares, então começaram a esculpir o que podemos chamar de uma mulher moderna.

No que se refere a tendências de consumo e comportamento, Erner disserta que “a uniformização do mundo já era assunto incontornável no século XIX, em que os românticos deploravam constatas que o singular abandonava a sociedade” (p. 225, 2008). Para Erner as tendências se organizam em torno da imitação e mecanismos já possuíam um papel importante sobre as tendências de moda no século XX consequente dos meios de comunicação de massa como as gravuras presentes em cartazes e propagandas, revistas e manuais.

Em pleno século XXI, segundo o texto de Erner, haveria na moda uma minoria de 10% que constitui os líderes de opinião que decidem as tendências futuras em torno de cinco anos antes dos lançamentos. A moda não obedece mais o sistema da difusão vertical dos gostos e nem somente uma elite propaga suas escolhas, nem somente a rua inspira a moda. Mesmo assim a lei que ainda rege os dias atuais esta relacionada com a clássica Lei de Poiret publicada em 1930 que geria o seguinte “qualquer excesso em matéria de moda era sinal de decadência” (p.221, 2008). A regra de Poiret não se aplica somente as roupas e explica-se pelo movimento de fluxo e refluxo característico a todas as modas, procurando cada vez mais melhorá-las, sofisticá-las e aprofundá-las.

Nos anos 90 a moda inicia um processo de diversificação, as mulheres param de seguir apenas regras e procuram encaixar as tendências ao próprio estilo. As informações começam a chegar mais rápido tornando as mulheres mais práticas e informadas. A escolha de um penteado passa a ter mais personalidade e este marco na história reflete até os dias atuais, onde a cada passo a mulher tem mais liberdade de expressão.
Na década atual, o cabelo natural ganha muitas adeptas, a ondulação natural dos cabelos é valorizada. Percebe-se uma busca fora da fantasia de mechas e cabelos repicados. A moda reflete a sociedade, quer retirar tudo que não é verdadeiro e transparecer naturalidade. Esse desejo é encontrado por todo o mundo e cada vez mais as mulheres querem valorizar o que já tem naturalmente belo. Em questões de penteados a figura feminina desde então não se limita em algo restrito para agradar conservadores, livre de qualquer crítica e preconceito, hoje o cabelo da mulher é sua identidade é o reflexo de si. Talvez se não fosse a mulher de 1900 se atrever a mudar, hoje em dia tudo poderia ser diferente.


ANEXO 01 – REPORTAGEM TENDÊNCIA
Fonte: NOVAIS, Fernando A. História da vida privada no Brasil 3 - República: da Belle Époque à Era do Rádio. 7 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Tendência do corte do cabelo feminino nos anos de 1920
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Tendência do corte do cabelo feminino nos anos de 1920

Pesquisa sobre o corte de cabelo feminino nos anos de 1920.

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