Labirinto
Como faço para sair daqui? Se em meio às mais temidas ruas, existem as mais nojentas mãos, os mais grotescos braços e bocas com a mais repulsiva saliva cuspindo tudo o que o diabo plantou em nós?
Como fugir? Se em meio a toda gente, há a reencarnação do mal em cada esquina, em cada quadra vejo uma, duas, três ameaças à vida — à minha vida!?
Como posso ir embora e dar às costas, enquanto, atrás de mim, estão milhares, milhões a chorar, a pedir por resistência e a me recordar das cores e dores que partilhamos?
Durante todo o tempo, a minha única certeza foi que tudo podia piorar. E piorou, enfeiou, não cicatrizou. Toda ferida foi aberta com múltiplos dedos cobertos de lama, fezes e restos de folhas.
Meus pesadelos revelam meus maiores medos e todos eles se referem a ser presa, morta em vida, impedida de partir. Porque hei de partir e exercer o direito que me mostraram que, aparentemente, tenho: o de ser egoísta. Há pouco me permiti ser — quando todos foram e ninguém mirou meu rosto. Ninguém, ao olhar minha cara, pensou novamente, pediu perdão. Ninguém me deu razão. E agora vamos chorar todos juntos, ainda que separados.
Parto e levo embora daqui meu peito, sangrando, cansado. Meus pulmões estão cansados de respirar esse ar pesado, impuro. Meu coração possui a energia necessária para suportar o tempo certo até minha partida.
Eu não quero soar alarmista, mas estamos fodidos. E eu já me fodi — e me fodo — muito para saber que não aguento mais uma vez. O erro agora parte do outro e, me foder contra minha vontade, é estupro.
Escrita criativa
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